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Que lições a humanidade pode tirar da pandemia da COVID-19?

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A crise da COVID-19 afetou a vida das pessoas em todo o mundo de uma maneira sem precedentes durante 2020, modificando a forma com que as pessoas vivem e interagem. Mas em um ano tão turbulento, quais são as lições que a humanidade pode tirar para o futuro?

Enquanto o mundo continua contando os casos de COVID-19 e fica na expectativa pela chegada da vacina contra o coronavírus, viramos o ano em meio a uma segunda onda da pandemia e com o futuro incerto. Mas já podemos tirar lições com a crise sanitária que abalou 2020? É o que a Sputnik Brasil buscou saber conversando com especialistas de diversas áreas.

Legados para a saúde

Em um cenário de crise sanitária, é evidente a importância que ganhou a questão do cuidado da saúde, mas, ao mesmo tempo, para garantir um enfrentamento eficiente de uma pandemia global, nunca foi tão evidente o cuidado que se deve ter com os próprios sistemas de saúde em termos de políticas públicas e investimento.

O médico e professor de virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Maurício Nogueira, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que essa pandemia mostrou a capacidade de resposta da rede de universidades, dos pesquisadores brasileiros, que fizeram contribuições fundamentais para o enfrentamento da COVID-19, o que “só existe porque tem financiamento”.

“Essas redes e esses grupos precisam continuar trabalhando e para isso é preciso de um financiamento contínuo para que a gente possa estar preparado para as próximas pandemias”, afirmou.

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 75% dos brasileiros dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, o número total de leitos de UTI é de apenas 23 mil leitos, o que equivale a 1,4 leito de terapia intensiva para cada grupo de 10 mil pessoas.

“Houve uma expansão significativa de leitos hospitalares do SUS. Isto podia ser um legado da pandemia, desde que o governo continue financiando, não só para a continuação da pandemia, mas para tirar o atraso enorme que existe nos atendimentos do SUS em diversos locais do Brasil”, argumentou o especialista.

“Nós estamos mais preparados em relação ao atendimento médico, as equipes estão mais bem treinadas, aprenderam a conhecer os sintomas, o que precisa ser feito, como é feita a abordagem dos pacientes. Então dessa forma a mortalidade tem caído, e isso é reflexo do treinamento e do aprendizado do pessoal”, acrescentou.

De acordo com Maurício Nogueira, a maior lição que a pandemia pode ensinar em termos de saúde pública é a necessidade de não tratar a questão sanitária de maneira politizada ou ideologizada, o que prejudica as reais necessidades da política de saúde.

Importância da saúde mental

Quando a pandemia da COVID-19 se declarou, muito se falou sobre as consequências que a pandemia e o isolamento social requerido por ela poderiam ter para a saúde mental. Para a psicóloga e mestre em Teoria Psicanalítica pela UFRJ, Andréa Di Pietro, é “inegável que a pandemia trouxe muito mais prejuízos à saúde mental da maioria das pessoas”.

“A pandemia colocou em evidência a fragilidade humana frente às forças da natureza e afetou diretamente os corpos – fadados ao adoecimento e finitude – e as relações sociais, gerando medo, ansiedade e acirrando os sentimentos de desamparo e incerteza sobre o futuro”, afirmou.

De acordo com Andréa Di Pietro, que atua como professora de Psicologia do Centro Universitário de Valença (UNIFAA), as reações das pessoas do ponto de vista da saúde mental foram das mais diversas. Ela conta que, na clínica, verificou tanto os frequentes casos de pessoas que sofriam pela sensação de morte iminente, quanto aqueles que se diziam aliviados pela anulação da demanda social dos encontros e confraternizações”.

O valor das relações humanas

A psicóloga Andréa Di Pietro também observou que o isolamento social imposto pela pandemia evidenciou o valor das relações humanas para nossas vidas. Ela destacou que somos seres constituídos a partir do laço social e adoecemos quando solitários. Com isso, o tema da saúde mental, sem dúvidas, ficou mais valorizado neste período.

“Além dos cuidados com o corpo e a inserção de atividades caseiras prazerosas, por exemplo, os esforços para nos mantermos em contato com amigos e familiares por ferramentas digitais surgiram como uma das principais estratégias de cuidado à saúde mental”, disse.

“Ainda assim, precisamos estar atentos à ideia de saúde mental como imperativo de felicidade, que não dá lugar ao sofrimento inerente à vida humana, transformando-o em uma patologia a ser eliminada”, completou a especialista.

Ao comentar sobre quais as principais lições que a pandemia pode ter nos deixado em 2020 em relação à saúde mental, a psicóloga citou o entendimento da sociedade de que os indivíduos são parte de um coletivo, “uma vez que para preservar vidas foi necessário impor sacrifícios à liberdade individual e, uma vez mais solitários, a possibilidade de olhar para si”.

“Por último, um ensinamento da clínica psicanalítica que pode ser aplicado a 2020 é que não há uma única e boa maneira de passar por situações como esta: cada um terá que inventar seus caminhos e inventar suas próprias saídas, mas sem prescindir do outro para isso.

Sociedade mais integrada ou mais individualista?

Diante de um contexto em que a pandemia impôs um isolamento social e, ao mesmo tempo, uma interdependência dos indivíduos para o controle da disseminação da doença, o professor de História e Filosofia, Leonardo Lusitano, comentou que é difícil pensar que um período que impõe um comprometimento coletivo para controlar a pandemia a partir do isolamento social possa integrar mais a sociedade.

O especialista lembrou que recentes pesquisas mostraram que 22% da população brasileira afirmou que não pretende tomar a vacina contra a COVID-19, o que revela uma recusa de uma grande parcela de pessoas de aderir a um pacto social e coletivo.

“A vacina é, antes de tudo, um pacto social. Quando nós tomamos, nós ficamos mais seguros e cobrimos outros que seguem ainda vulneráveis. O indivíduo que se vê apartado da natureza, que resume o cosmos à sua necessidade, como esperar que esse sujeito se veja como uma parte do todo não isolada?”, questiona Lusitano.

Por outro lado, o doutorando em Filosofia pela UERJ declarou que, neste contexto, a pandemia pode ter mostrado a necessidade de apostar na educação pública como elemento transformador da sociedade através da sua importância na formação de cidadãos.

“É difícil pensar em um cenário onde os padrões econômicos e de visão de mundo deixem de reforçar o individualismo, sem que a gente consiga imaginar outras formas de se ver no mundo, que não sejam a partir do indivíduo. Nesse ponto, a educação pública com os seus processos de formação é bastante fundamental”, argumentou.

Outro aspecto muito marcante durante o período de isolamento imposto pela pandemia foi a relação das pessoas com a produção cultural. A situação de quarentena intensificou o consumo de arte das pessoas em suas casas, seja através de filmes, livros, transmissões de shows ao vivo pelas redes sociais, etc. Este aspecto levou o professor Leonardo Lusitano a refletir sobre a potência da produção artística como forma de repensar a forma como vivemos a partir da experiência do ano de 2020.

De acordo com o professor de História e Filosofia, a valorização da arte pode ser um dos legados do período enfrentado pela sociedade durante a pandemia, tendo em vista a natureza crítica com a qual a cultura pode afetar as pessoas.

“Durante 2020, muito se falou dos desdobramentos da pandemia através das ciências, das leis, através da educação, da política, mas pouco foi dito sobre a potência da arte. Diante de um país devastado por um vírus, talvez seja importante nós fazermos este questionamento: será que a arte pode criar novas possibilidades?”, refletiu.

​Para o especialista, a arte possui um caráter expressivo que traz novos mundos “do virtual para o real”, produzindo “novas formas de viver que não se limitam à nossa pessoalidade, não se limitam à nossa individualidade”.

“A arte tem essa força de, no meio de uma pandemia, nos afastar do medo da morte e convidar a criar, mesmo na circunstância mais hostis. A arte pode traçar um caminho que nos tire do medo, do individualismo, do moralismo, um caminho que nos lembre de viver”, destacou o professor de História e Filosofia.

“Talvez todo o sofrimento de 2020 e o olhar para outras possibilidades através da arte possam nos apontar para uma ética, possam nos apontar para uma prática onde a arte expresse outras formas de pensar que sejam diversas dessas formas individualistas de raciocinar do indivíduo, que é tão dominante na nossa sociedade”, completou.

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